O Modernismo na Pintura
Irradiação e Implantação:
O movimento ficou conhecido em Portugal a partir de duas exposições: a primeira, em 1915, ocorreu no Porto, tendo sido chamada de «Humoristas e Modernistas»; as segundas, em 1916, em Lisboa e no Porto, de Amadeu de Souza-Cardoso.
O país, que entrara no século agarrado a uma pintura naturalista e romântica em que artistas como José Malhoa eram a referência, reagiu violentamente ao movimento. A nova estética internacional, desconhecida no país, estava a ser mostrada por artístas que tinham estado em Paris.
A 1ª Geração de Paris (1911)
1ª Geração Modernista: ocorreu com o regresso à pátria de artistas como Dórdio Gomes e Santa-Rita Pintor. Seguiram-se os do 2º grupo modernista (cerca de 1914). Este segundo grupo era constituído pelos artistas que regressaram de Paris com a eclosão da Grande Guerra (Diogo de Macedo, Eduardo Viana, Amadeo de Souza-Cardoso). Estiveram ligados ao grupo do Orpheu.
Até à morte de Santa-Rita Pintor e de Amadeo de Souza-Cardoso (vítimas da pneumónica em 1918), a renovação da pintura portuguesa centrou-se nestes artistas e ainda nos grupos ligados ao Orpheu.
O mais notável representante desta geração foi Amadeo de Souza-Cardoso, que, inicialmente influenciado por Cézanne, evoluiu para um cubismo misturado com todas as tendências com que contactou.
Alguns aspectos relevantes de pintores portugueses da «1ª geração de Paris»:
Eduardo Viana:
1. Influências de Cézanne e do Fauvismo
2. Influências do casal Delaunay com os círculos órficos, cores vibrantes.
Amadeu de Souza-Cardoso:
1. Experimentação e exploração de várias correntes (naturalismo, impressionismo, expressionismo, cubismo, futurismo...)
Influências e contactos com Modigliani, Brancusi, Picasso, Braque, os Delaunay
Pintou reinterpretando e reinventando a realidade.
Geometrizou as formas, usou de cores vibrantes, decompôs as imagens à maneira cubista, pintou círculos de cor, máscaras de influência etnográfica.
Usou colagens, areia, pasta de óleo... inseriu letras.
Estilhaçou e decompôs a imagem em múltiplas partes esclarecedoras do significado e complementares entre si.
Não tornou fácil a sua classificação em qualquer corrente artística.
A sua obra foi esquecida durante muito tempo até Vieira da Silva o reabilitar.
Morreu demasiado cedo para uma obra tão promissora.
Santa-Rita Pintor:
Diplomado com 18 valores pela Escola de Belas-Artes de Lisboa. Partiu em 1910 para Paris como bolseiro.
Em 1917 participou, com especial papel de orientador-agitador, na sessão futurista do Teatro da República e foi um dos responsáveis pela publicação do número único de Portugal Futurista, apreendido à saída da tipografia, onde saíram 4 reproduções de quadros seus.
Morreu em 1918 determinando que toda a sua obra fosse destruída, o que a família cumpriu.
As obras reproduzidas em Orpheu introduzem no modernismo dos anos 10 uma dimensão poética imaginativa inédita, tal como as do Portugal Futurista, entre as quais «Perspectiva Dinâmica de um Quadro ao Acordar» caracteriza um vector de Futurismo.
A «Cabeça» constitui uma interessante tentativa de dinamização interna pela sua estrutura significante, que não tem paralelo na pintura nacional contemporânea.
A 2ª Geração de Paris (a partir da década de 20)
Foi constituída pelos artistas portugueses que regressaram a Paris depois da guerra (devido à ausência de público em Portugal), nos anos 20, e em que se destacaram Dórdio Gomes, Abel Manta, Mário Eloy, Diogo de Macedo, os irmãos Franco e Almada Negreiros, entre outros.
Fizeram diversas exposições divulgando a nova estética internacional.
A arte foi muito prejudicada a partir de 1935 com as limitações impostas pela censura e pelo Secretariado de Propaganda Nacional, que organizava as mostras, promovia os artistas, impunha temas e estética e levou ao exílio de muitos.
As décadas de 30 e 40 foram marcadas pela propaganda do regime salazarista com a Exposição do Mundo Português. António Ferro, homem do governo de salazar mas inteligente e moderno, chamou diversos artistas para o trabalho com o Estado na preparação da Exposição (1940) que envolveu diversos projectos arquitectónicos e artísticos e desenvolveu um estilo de cariz nacionalista.
Alguns aspectos relevantes de pintores portugueses da «2ª geração de Paris»:
Almada Negreiros:
Foi o maior representante do grupo pela sua genial produção expressa em diversas formas artísticas (pintura, desenho, vitral, tapeçaria) (Maternidade) não apenas plásticas mas também literária (poesia, romance, ensaio, crítica) e bailado.
Depois de ser influenciado pelas correntes do seu tempo e pela arte nova, experimentou o futurismo.
Participou na criação das revistas Orpheu e Portugal Futurista.
Foi um dos introdutores do modernismo em Portugal.
Foi autor apreciado por António Ferro, sendo por isso contratado para numerosas obras do Estado. Entre essas destacam-se os frescos de Gara Marítima de Alcântara que evocavam com colorido geometrismo a história de Portugal nas memórias que cada viajante transporta.
Não foi um artista enquadrado em qualquer movimento artístico nem político, tendo mantido uma atitude de marginalidade.
Abel Manta: também começou por ser influenciado por Cézanne, mas, posteriormente, criou um estilo pessoal em que o intimismo e o retrato se destacaram (Jogo de Damas).
Grande número de artistas procuraram sobreviver ligando-se a manifestações gráficas, a revistas e cartazes de carácter publicitário como Stuart Carvalhais.
A partir dos anos 30 destacou-se Maria Helena Vieira da Silva, pintora radicada em Paris que se tornou um dos expoentes do abstraccionismo. Ali realizou a sua primeira exposição individual (A Rua à Noite; Atelier, Lisbonne e A Guerra). Embora tenha sido pouco reconhecida em Portugal e a sua arte tivesse estado mais ligada aos movimento internacionais que ao movimento artístico português, não deixou de reflectir nas suas telas, num quadriculado que evocou os azulejos portugueses, as referências ao seu país.
Por alturas da 2ª Guerra Mundial, fez-se a primeira exposição de surrealismo em Portugal. O surrealismo e o neo-realismo dominaram durante anos as tendências artísticas nacionais. Destacaram-se como surrealistas Mário Cesariny, Moniz Pereira, Fernando de Azevedo e Marcelino Vespeira e como neo-realistas António Dacosta e António Pedro (intervenção romântica).
CONSULTA:
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